A morte de Cândido Portinari – Intoxicado por chumbo
Em inúmeros congressos médicos, especialmente voltados à área de nutrologia e de medicina preventiva, temos tido a oportunidade de conversar com nossos colegas médicos sobre a intoxicação pelos metais pesados, tão presente e ao mesmo tempo tão desconhecidos em nosso País.
Recentemente tive a oportunidade de visitar o museu Candido Portinari, na aprazível cidadezinha de Brodowski/SP, onde Candido Portinari viveu a maior parte de sua vida e se dedicou com afinco à pintura. Dali saiu a maioria das cerca de 5.000 obras pintadas pelo artista; algumas expostas na biblioteca do congresso dos Estados Unidos, outras na ONU e por aí afora.
Cândido Portinari foi indiscutivelmente o pintor brasileiro de maior projeção internacional e talvez o maior pintor brasileiro de todos os tempos, embora tenha vivido pouco. Nasceu em 1903 e faleceu em 1962, no auge de sua produção artística, intoxicado pelo chumbo e por outros metais tóxicos presentes nas tintas que ele usava.
Muito me impressionou uma foto do seu funeral. Foi velado pelos extremos políticos da vida nacional, desde o presidente Juscelino Kubitschek ao governador Carlos Lacerda, dos seus colegas do Partido Comunista Brasileiro (foi Cândido senador pelo PCB no ano de 1947) aos dignitários da igreja e das forças armadas e, principalmente, pelo povo, que lotou as ruas do Rio de Janeiro em seu último adeus ao brilhante compatriota.
No museu, devidamente protegido por uma campânula de vidro, veem-se alguns tubos de tintas usadas por Portinari; consegui ler alguns componentes, como chumbo, cádmio etc. Fiquei imaginando que se a medicina de então tivesse os recursos de hoje para extrair esses venenos do organismo de Portinari, ele ainda produziria suas obras-primas durante mais algumas décadas.
Faleceu em 1962, mas por mais estranho que pareça, persistiu até há pouco tempo o desconhecimento da agressividade desses tóxicos presentes. Até a liga das latas de leite condensado, as tintas das casas, o escapamento dos carros, as fundições, a queima de madeiras pintadas, as munições, as águas contaminadas de chumbo pelas minas abandonadas contaminam um número incontável de compatriotas nossos a tal ponto que, próximo a Curitiba, até hoje (2016), nascem crianças anencefálicas (sem cérebro) ou com baixíssima inteligência; outras apresentam dores abdominais contínuas, náuseas, vômitos, baixo crescimento, irritabilidade extrema e, principalmente, pouca expectativa de vida, tudo isso pela contaminação do solo onde vivem pelo chumbo, ainda presente por minas abandonadas.
Fica aqui um alerta aos nossos leitores: converse com seu médico sobre esse tema! É de extrema gravidade e, pior ainda, atualíssimo!