Entre as queixas mais comuns que ouvimos em consultório, uma sempre nos chamou muito a atenção: era aquela pessoa que relatava certo cansaço, tanto físico como mental, constante, mesmo descansando dias ou semanas seguidos; queixavam-se também de alteração no sono, seja insônia ou sono perturbado, confuso com muitos despertares; somado a isso, queixas digestivas: mesmo cuidando da alimentação, por menos que comessem, sentiam o abdome distendido, a digestão lenta, muitos gases e boca amarga; se não bastassem essas queixas, agregam-se as mesmas dores musculares, que muitas vezes são insuportáveis, especialmente em grupos musculares com menos irrigação sanguínea.
Na realidade, o paciente sente que tudo nele dói. Eram submetidos aos mais diferentes tipos de exames, sem nenhuma conclusão. De concreto, apenas um nome para tal situação:
fibromialgia
Pesquisadores de diferentes centros de estudos, especialmente da Europa, têm procurado, através de décadas, uma explicação, uma resposta para essa doença, que, em muitos casos, chega a ser incapacitante.
Os pesquisadores começaram a observar que esses pacientes eram pessoas que tinham ingerido antibióticos e/ou anti-inflamatórios com muita frequência, ou tinham uma alimentação desequilibrada em que predominavam os cereais refinados e os açúcares e tinham um grau importante de estresse.
Nós, médicos, sabemos que essas três grandes situações, tão comuns hoje em dia, alteram, com o tempo a flora intestinal, causando um desequilíbrio nesse ecossistema impressionante, que é, em grande parte, responsável por nossa saúde.
A flora intestinal alterada implica no descolamento de bactérias desde o intestino, através da corrente sanguínea, atingindo outras regiões que não são seu habitat natural, onde passam a liberar toxinas, especialmente em alguns músculos ou regiões pouco irrigadas onde essas toxinas se acumulam com mais facilidade, ocasionando então os pontos mais importantes de dor.
Alterada também a flora intestinal, nosso principal neurotransmissor relacionado ao humor serotonina diminui, com isso a possibilidade do paciente que iniciou o quadro com uma alteração de sua flora intestinal caminha para um quadro de fibromialgia e termina também num quadro depressivo.
Em suma, devemos ter um cuidado imenso com o nosso estilo de vida, começando por algo bem simples, uma alimentação leve, o mais natural possível e o mais próximo do que chamamos de trivial brasileiro, evitando os modismos aos quais somos levados por uma propaganda maciça, sanduíches, refrigerantes, açúcares, cereais refinados etc.
Lembrar sempre que a automedicação, especialmente de antibióticos, é uma agressão ao próprio organismo; só um médico está apto a prescrevê-los; por último, nunca aceitar o estresse como algo comum, normal, do nosso cotidiano. Não. O estresse crônico é uma doença gravíssima e como tal deve ser tratada.